terça-feira, 21 de julho de 2015

APRENDIZAGEM, AUTORIA E A MULTIMODALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR

Na busca por uma aprendizagem significativa, partindo do princípio que a sociedade caracteriza-se hoje pelo fluxo das informações, na escola é possível defender um trabalho consciente, redefinindo ações, inovando alternativas que venham a favorecer a aprendizagem, criando e viabilizando possibilidades de desenvolver nos alunos a capacidade de questionar, de levantar dúvidas e assim construir conhecimentos.  Pois nos estudos de BECKER, podemos perceber que a instituição escolar já passou por várias etapas epistemológicas. Já considerou o aluno como uma “tábula rasa ” num modelo da pedagogia diretiva, na qual o aluno não tinha conhecimento algum e a escola era responsável por transmitir esse conhecimento. Nesse contexto assegura Becker (2001): “O professor considera que seu aluno é tábula rasa não somente quando ele nasceu como ser humano, mas frente a cada novo conteúdo estocado na sua grade curricular, ou nas gavetas de sua disciplina.”
             Já no segundo modelo, um pouco difícil de detectar no contexto escolar, traz a pedagogia não - diretiva, na qual o professor acredita que o aluno é capaz de aprender sozinho, sem estímulos, sem inferências, ele se porta como um auxiliar do aluno. E o terceiro modelo, a pedagogia relacional, sustenta que o professor dá condições para o aluno construir o conhecimento, trazendo, por exemplo, para sala um material para manuseio dos alunos, questionando, indagando, construindo com ele as hipóteses para responder tais perguntas, ou seja, dá condições para o aluno explorar, refletir e encontrar com ele as respostas necessárias para a construção do conhecimento esperado. Essa concepção de sujeito é trazida pelo construtivismo de Piaget onde diz que o conhecimento se constrói na interação do sujeito com o objeto. Que antes dos seus estudos, outros estudiosos, concluíram que o conhecimento viria apenas de forma física através dos sentidos (apriorismo), nada viria do meio. E outros estudos posteriores revelaram que o conhecimento viria apenas pelo meio social (empirismo), que o indivíduo não possuía nenhuma bagagem hereditária, genética. Esses estudos do desenvolvimento ocorreram principalmente na Inglaterra, nos séculos XVII e XVIII, com John Locke (1632-1704).
            Porém, Piaget, na teoria construtivista, verificou em seus estudos que o conhecimento se dá em forma de assimilação: o indivíduo agindo sobre o objeto transformando-o, incorporando novas informações; e acomodação: quando essa transformação se torna um novo conhecimento, se refaz, através da reorganização dessas informações, ou seja, adquire um novo conhecimento.
            A pedagogia relacional, aqui discutida por Becker, através de pesquisas nos estudos do construtivismo vem ressaltar:
“O professor construtivista não acredita no ensino convencional ou tradicional, pois não acredita que um conhecimento (conteúdo) e uma condição prévia de conhecimento (estrutura) possam transitar, por força do ensino, da cabeça do professor para a cabeça do aluno. Não acredita na tese de que a mente do aluno é tábula rasa, isto é, que o aluno, frente a um conhecimento novo, seja totalmente ignorante e tenha de aprender tudo da estaca zero, não importando o estágio do desenvolvimento em que se encontre”. (BECKER, 2001. P.24)
            Aprendizagem é, portanto, uma construção que não tem fim nem começo integral, ela se faz perante ação, construção e reconstrução do conhecimento. Na prática pedagógica é importante o professor considerar o que o aluno já traz consigo de experiências, conhecer como ocorre à aprendizagem e ter claro a sua posição, vislumbrando, assim, o futuro e indagando: qual o sujeito que quero formar?       
            Com o estabelecimento da pedagogia relacional, o professor passa a ter chance de oportunizar possibilidades e de construir um conhecimento mútuo, baseando-se numa visão na qual o aluno é encarado a todo instante como um sujeito ativo, cultural e histórico, pois leva em conta a sua história de vida e o processo de construção do conhecimento já adquiridos, sendo chamado sempre para uma ação que resultará na aprendizagem não somente para si, mas para todo o meio que o cerca.
            Sobre essa ação humana coordenada e coletiva, afirma Becker (2001) “Uma proposta pedagógica, dimensionada pelo tamanho do futuro que vislumbramos, deve ser construída sobre o poder constitutivo e criador da ação humana- “é a ação que dá significado as coisas”!”.
            Talvez, assim, possamos resgatar a autoridade do professor em ser reconhecido como alguém que possui e domina um conhecimento sistematizado, mas que valoriza uma relação construída.
            Numa linguagem mais atual, trazendo como foco também a aprendizagem coletiva e colaborativa,  Duram e Vidal  no seu texto ”A aprendizagem entre iguais como recurso de atenção à diversidade”, inspirado pelo construtivismo, trata a diversidade entre os alunos como um objeto de suma importância, compreendendo que o trabalho em grupo respeitando as diferenças cognitivas contribui significativamente para a aprendizagem. Eles discutem que a interação entre os alunos propicia no ambiente escolar um ambiente socializador, no qual os alunos desenvolvem suas competências e habilidades de forma cooperativa e colaborativa.
            O trabalho cooperativo traz para a escola uma aprendizagem significativa.
“Para a escola, o trabalho em grupo cooperativo não é somente um motor para a aprendizagem significativa e uma potente estratégia de ensino de atenção à diversidade, mas, além disso, um recurso para a aprendizagem de habilidades pró- sociais e uma aprendizagem em si mesma altamente funcional para a sociedade do conhecimento.” (DURAM E VIDAL 2007 p. 25)
            Assim, a aprendizagem colaborativa no contexto escolar estabelece rotinas planejadas e flexíveis, trabalha habilidades diversas, além de cumprir com os quatro pilares baseado no Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (UNESCO, 1996) na qual consiste em aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.
            Essa aprendizagem coletiva e colaborativa vem sendo facilitada com o surgimento das novas tecnologias de comunicação e informação, crescendo numa geração digital que processa diferentes informações com muita rapidez. Uma geração que se comunica e se informa utilizando diferentes ferramentas, uma geração multimodal.
            Entendendo melhor o que está exposto acima, discutiremos a relação“Homo Zappiens” e a sua multimodalidade. Os estudos de Veen e Vrrakking (2009) denomina essa nova geração de “Homo Zappiens”, uma geração que pertence a uma cultura cibernética global com base na multimídia. Uma geração que usa a tecnologia para adquirir suas informações filtra-as, cria novos conceitos e divulga na sua rede social. Uma geração que não é linear. E sim, uma geração que cria regras, que pesquisa, que a autora do próprio conhecimento através das tecnologias. Uma geração que utiliza diversos recursos de comunicação: verbal, entonada, gestual, escrita, entre outros, através de veículos digitais ou não. E a escola? A escola é uma instituição hoje preparada para receber esse “Homo Zappiens” multimodal?
            De acordo com os estudos de Veen e Vrrakking (2009), essa geração utiliza a escola como ponto de encontro e reforço das suas redes sociais e não mais como lugar para aprender.
“Como já foi mencionado, o “Homo Zappiens” considera a escola um lugar de encontro com os amigos, mas do que um ambiente de aprendizagem. A escola não os desafia o suficiente a aprender, e corre, atualmente, o risco de não estar mais em contato com a sua audiência. A escola é um dos pontos da vida cotidiana dos alunos, mas não é o mais importante.” (VEEN E VRRAKKING, 2009 p. 47.)
            O contexto escolar atual é favorecido com recursos que possibilitam o oferecimento de ambientes que podem atrair essa nova geração e fazer da escola um ambiente de aprendizagem agradável. Recursos principalmente com aspectos multimodais, como: livros com impressões gráficas de alta qualidade contendo imagens contextualizadas com o conteúdo trabalhado, revistas científicas, jornais, mapas, gráficos, DVDs, além dos recursos que podem ser usados na sala de tecnologia com o uso da internet. Tudo que possa envolver o aluno de forma a estabelecer uma relação intertextual, como afirma Dionísio:
  “Da ilustração de histórias infantis a um diagrama científico, os textos visuais, na era de avanços tecnológicos como na que vivemos, cercam-nos em todos os contextos sociais. Os diversos tipos de material didático utilizam cada vez mais essa diversidade de gêneros , assim como recorrem a textos publicados em revistas e jornais na montagem das unidades temáticas de ensino, nas mais diversas disciplinas nos níveis fundamental e médio”. (DIONÍSIO, 2007 p. 195.)
            A consideração dada pelo professor a esses recursos multimodais encontrados no contexto escolar nos leva a refletir o tratamento que lhe é dado na sala de aula. Sabemos que na realidade o material existe, porém, infelizmente, pouco utilizado e que alguns professores acabam negligenciando a importância dos elementos visuais no seu planejamento e em suas aulas, o que acaba por formar, muitas vezes, alunos incapazes de interpretar uma imagem, por exemplo. Uma análise desse material se levada para a sala de aula, como amostra de trabalho com um determinado gênero textual, por exemplo, pode contribuir para a formação de leitores mais completos, capazes de construir significados sucedidos de inúmeras representações, construindo um conhecimento mais globalizado, mais próximo da realidade em que vive essa nova geração.
            Contudo, entendemos que se faz necessário que a escola e o professor, estejam preparados para receber essa geração, com sua bagagem de informação, com suas diversas formas de comunicação. Sabendo trabalhar, assim, com as diferenças, trazendo um significado à aprendizagem individual e coletiva, colaborativa e virtual, com um novo olhar para o mundo, para vida e para suas relações sociais, questionando: que sujeito queremos formar? .



Referências

BECKER, Fernando. Educação e construção de conhecimento. Porto Alegre, Armed, 2001.
DIONÍSIO, Angela Paiva. Fala e escrita. Vídeo disponível em: http://www.youtube.
com/watch?v=6y9xK-9bbcw&feature=youtu.be. Acessado em 26 de maio de 2013.
DURAN, David. Aprendizagem entre iguais: da teoria à prática. Porto Alegre, Armed, 2007.
MARCUSCHI, Luiz. Fala e escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
VEEN, Wim & VRAKKING, Ben. Homo zappiens: educando na era digital. (Tradução Vinicius Figueira). Porto Alegre: Artmed, 2009.



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